Desde que Jair Bolsonaro foi declarado inelegível pela Justiça, muito se especula sobre o seu futuro político. Sabe-se que uma anistia concedida pelo Congresso é uma hipótese que habita o imaginário do ex-presidente. Para isso, bastaria o apoio de 41 dos 81 senadores e de 257 dos 513 deputados federais a um projeto de lei, além da disposição do Congresso de confrontar abertamente o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, por derivação, o próprio Supremo Tribunal Federal (STF). A proposta até já existe, foi apresentada pelo deputado Ubiratan Sanderson (PL-RS) e prevê a anulação geral de todas as punições por crimes eleitorais praticados nos últimos oito anos. No cenário atual, evidentemente, é improvável o avanço de qualquer intento nessa direção. Por isso, já está em andamento um dos planos de contingência do bolsonarismo: a entrada em cena da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, candidata a herdeira pessoal da popularidade do marido. Na manifestação de domingo passado em São Paulo, essa estratégia ficou evidente.
Michelle
ocupou uma posição de destaque no palanque. Ela discursou durante quinze
minutos, muito mais tempo do que estrelas como o governador Tarcísio de
Freitas. No ritmo de um culto religioso, falou ao eleitorado feminino (“como é
difícil para nós mulheres estarmos à frente da política”), aos evangélicos
(“chegou agora o momento da libertação. Conhecereis a verdade e a verdade vos
libertará”) e sobre uma fusão da política com a religião (“por um tempo nós
fomos negligentes a ponto de falarmos que não poderia misturar política com
religião e o mal ocupou o espaço”). Lamentável. Sempre em tom emotivo, também
rezou e chorou. O público aplaudiu o que pode ter sido o primeiro grande ensaio
para a estreia eleitoral da ex-primeira-dama, début que talvez aconteça em
breve, numa eleição suplementar no Paraná, caso se confirme a cassação do
mandato do senador Sergio Moro, num julgamento marcado para o início de abril. VEJA
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